Cansada da maldade que jorra nos espinhos, regada por palavras azedas semeadas ao vento, entrego-me ao chão da serra.

Este chão, preso nos melhores sabores, sentires e aromas que me pega ao colo.

Aqui, busco meu caminho, percorrendo trilhos e canadas ancestrais e aconchego minha alma ferida por agulhas que, por vezes, se esforçam a rasgar a minha pele.

Numa paisagem agridoce, como agridoce é o pó que lava meu corpo, sinto o silêncio dos muros, gravado nas capelas solitárias.

As velas ardem à busca de auxílio.
Os Santos dormem nos altares frios.
As preces ecoam no horizonte sombrio.

Lentamente, murmuro por socorro, enquanto meus passos se arrastam no fumo, em direção à porta fechada. Um postigo abre meu coração e deixa ver no escuro uma imagem que sorri para mim.

Perdida no tempo e no espaço, sinto-me abraçada por mãos divinas, postas em sinal de oração.

Fixo-me no tudo que preenche o vazio.

Sinto-me pequenina na imensidão deste lugar sagrado.

Grito na garganta sufocada por algum desânimo.

Um desânimo mais duro que as pedras quentes que refrescam minha essência... agora, polvilhada pelo incenso de rosmaninho.

Neste mundo onde a multidão se empurra e tropeça, permaneço neste universo sem ódios, sem rancores, sem palavras cortantes e pouso minha cabeça nas carícias de um Ser Invisível.

Suavemente, uma mão filtra os meus cabelos.

Percorre meu âmago com um carinho transcendente e sobrenatural.

Quero adormecer no céu e ficar para sempre neste pedacinho calmo, coberto pelas penas dos anjos celestiais.

Aqui, escrevo o que o amor me dita, sem medo de me perder no Ser que amo.

Aqui, eu sou imensamente feliz. Nada ouço, nada vejo, nada sinto... apenas, sinto o Amor e a ternura do meu Deus, que me aceita como sou e pelo que sou.

Celeste Almeida, a autora deste texto.

Publicado em
5/12/2022
na categoria
Caminhos na História
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