Memórias de um passado, que fizeram a História da aldeia de Cujó. Estórias escritas nas pedras, com o aroma das urzes que fazem um tapete colorido na Serra da Lestra.

Já se passaram muitos verões e invernos, muitos sóis e muitas luas, mas a capela do Senhor da Livração perpétua no seu silêncio a estória que o Povo conta.

Tempo de perigos e medos.

Tempos míseros em que a alma se saciava com orações e súplicas ao Divino Ser Invisivel e o corpo com nacos de pão seco.

Contam as boas gentes da aldeia, que na Serra da Lestra, um pastor vigiava o rebanho, ouvindo o cântico dos passarinhos pousados nas ramadas das carvalhas.

O gado, de olhos no chão, comia as urzes e ervas tenras indiferente à aproximação dos lobos famintos que pé ante pé se preparavam para cravar os dentes nos animais.

O pastor fez das tripas vazias coração e, sem hesitar correu em defesa do seu rebanho, único sustento da família. Com o cajado enrugado nas mãos, lutou com toda a força, tentando afastar as feras.

Estas, não querendo ir embora sem a barriga cheia, atacaram o pobre homem.

Aflito, vendo-se perdido no meio do monte, rodeado de tanta selvajaria, pede socorro ao Senhor, levantando os olhos para um Cruzeiro com a imagem de Cristo Crucificado, ali existente desde o século XVIII.

-Nosso Senhor da Livração, me ajude!

Nosso Senhor da Livração, me salve, não permita que eu deixe meus filhinhos sem pai, pois morrerão à fome!...

As ovelhas e as cabras corriam aturdidas entre os rochedos.

Sem esperança, vendo-se vencido, quase se entregou ao seu cruel destino.

Resignado, despediu-se da vida e dos seus, em oração, invocando novamente o Senhor da Livração.

-Salve-me, Nosso Senhor da Livração!

Ajude-me, nesta hora de aflição.

Os lobos tornaram-se mansos, como os mais mansos cordeiros do rebanho. Começaram a abanar a cauda em sinal de paz e retiraram-se com lentidão escondendo-se nas moitas.

O milagre tinha acontecido.

Nosso Senhor da Livração não o tinha abandonado.

Disse-me a voz do Povo, na sua sabedoria, que a capela erguida na serra, foi mandada construir por cinco irmãos, descendentes do pastor abençoado pelo Senhor da Livração, no ano de 1886, data inscrita no teto da pequena ermida. Hoje, é um lugar de devoção.

Rasgam-se os joelhos, acendem-se velas no chão do altar, rezam-se mistérios do Rosário de Maria, cumprem-se novenas.

No seu interior podem ver-se em grande número os ex-votos, pagamento de promessas feitas pelos crentes, que em grande número recorrem ao Santuário, lugar Sagrado onde o céu se abre para acolher os peregrinos, vindos dos mais longínquos lugares.

Celeste almeida: Autora do Texto

Publicado em
30/6/2023
na categoria
Caminhos na História
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Celeste Almeida

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