Tia Maria é uma terna mulher que chora e ri com a mesma facilidade, com que ata as pontas do avental negro, lavado pela cinza da lareira.

De bem consigo e com os vizinhos que a cercam, isolada de qualquer laço familiar, nunca saiu da sua aldeia.

Lá, tem tudo que precisa, pois o seu tudo resume-se ao pão da boca, ao ar puro da serra e aos sorrisos doces, lidos na simplicidade daquele povo.

No aconchego do calor da lenha que arde, ouvindo a musicalidade da chuva caída nas folhas de zinco que cobrem o telhado roto, perco-me nas suas palavras repletas de poesia rimada no interior da nostalgia de tempos passados.

Ri na saudade, hoje perdida no meio das folhagens verdes, que abraçam aquele penedo misterioso, seguro nas raízes da encosta do monte.

Todas as tardes de domingo, embalava o seu corpo e do seu namorado, na capucha estendida nos fios do vento e no bafo dos animais que os aqueciam no gélido inverno.

Hoje... aquele lugar, trilhado de sussurros e gemidos é um lindo jardim na serra plantado, reviver de tantas emoções, sensações da sua juventude, cuja memória guarda no seu coração.

A magia de tão saudosas vivências, marcas da pele rugosa, são turbilhões de paixões num coração sedento de um amor que já se foi, mas para sempre ficou!...

Num simples entrelaçar de mãos, acaricia sentimentos inesquecíveis, gestos mais ousados, carícias e beijos roubados, no tempo do pecado.

Entre amorosas recordações e promessas de amor eterno, a tia Maria, na sua conversa deixa-se levar ao encontro dos prazeres daqueles seus anos dourados!

Com emoção o sorriso fecha-se no seu rosto e na sua face serpenteia uma lágrima que brota naquele penedo... hoje, ausente dos seus amantes.

Eu... abraço aquela lágrima... que beija o rosto da tia Maria... e seca no meu!

 

Fotos do arquivo pessoal
Publicado em
1/5/2022
na categoria
Caminhos na História
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Celeste Almeida

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