Quando olhamos um penedo no meio da serra, desde logo nos lembramos das Mouras Encantadas, esses seres fantásticos com poderes sobrenaturais à espera de um beijo principesco que as acorde de um sono profundo!

Ou, então, lembramo-nos das almas de lindas donzelas que são as guardiãs de valiosos tesouros escondidos pelo seu povo, antes de partirem para a mourama!

Sim, os penedos são baús dos mais belos relatos populares que fazem parte da nossa tradição oral!

No entanto, existem penedos com outro encantamento e outras características que nos transportam para um passado bem recente.

Poderes curativos?

Vejamos!

Todos sabemos, que mortes causadas em massa, associadas a uma determinada pandemia, sempre existiram ao longo da História.

A tuberculose , também chamada de tísica pulmonar, peste branca ou doença do peito, é uma doença infeciosa que, segundo estudos realizados, acometeu a humanidade há, pelo menos quatro mil anos, e continua a ser responsável pela morte de muitas pessoas mundialmente!

Desde o século XIX, prevalece a esperança que os fatores fundamentais para o tratamento e cura desta doença, são a boa alimentação, o repouso e o clima das montanhas, lugares escolhidos para a construção dos extintos Sanatórios.

António Pereira Ramalho, um médico do princípio do século XX, depois de ter estado na aldeia da Gralheira, descobriu um lugar em plena serra do Montemuro que, segundo ele, tinha propriedades curaticas para esta doença.

Um enorme penedo situado no cimo de um monte, formado por três blocos graníticos, com uma vista panorâmica deslumbrante, era o local indicado para a cura das pessoas que contraiam a tuberculose.

O ar puro e saudável que ali se respira, capaz de se entranhar na carne e nos ossos, associado aos alimentos saudáveis cultivados nas terras do rio Cabrum, eram, sem dúvida, o melhor tratamento que o médico poderia indicar aos seus doentes, vítimas deste surto pandémico.

Dizem as pessoas da Gralheira, que o dito médico contraiu, também ele a tuberculose e permaneceu na aldeia, entre os anos de mil novecentos e seis e mil novecentos e oito com a finalidade de se curar.

Foi a partir daí, que passou a considerar aquele lugar o ideal para a cura de tal doença. Chegou a ter o sonho de construir no local um Sanatório, pois ele considerava a região, uma região sanatorial, atendendo ao valor incontestável do seu clima.

Mas, apesar da existência de algumas ruínas que podem ser vestígios de uma casa sanatorial, não existem provas concretas que atestem a veracidade desse estabelecimento. No entanto, algumas pessoas idosas, afirmam que aquele aglomerado de pedras, um pouco abaixo do Penedo, são resíduos do bendito Sanatório!

O que se sabe, sem margem para dúvidas, é que o Dr.António Pereira Ramalho curou centenas de pessoas, vítimas desta doença, naquele lugar que permanece bem vivo na memória da população desta aldeia conhecida por A Princesa da Serra.

E, para que o tempo não apague essa memória tão antanha, a União de Freguesias de Ramires, Bustelo, Alhões e Gralheira, no mês de Junho do ano dois mil e vinte e um, homenagearam o médico salvador de tantas vidas, numa cerimónia que teve como cenário o sítio do milagroso Penedo da Saúde.

O senhor Presidente da Câmara de Cinfães, Armando Mourisco marcou presença neste acto bastante singelo, mas revelador da grandeza daquele povo, que não esquece o benfeitor que transformou um amontoado de rochas num ícone da localidade da Gralheira.

Assim se escreve a história de um Povo.

Estávamos no início do século XX.

Portugal foi atingido por um surto de tuberculose e um médico descobre um lugar situado na serra "mais desconhecida de Portugal" para salvar inúmeras pessoas vindas de todo o país, sem qualquer medicação!

Eu quis sentir o ar que se respira neste emblemático penedo e acreditem que o frio que parece estar a cortar-nos a pele, é um tesouro que se armazena no peito e nos causa a sensação que todas as impurezas alojadas nos pulmões são libertadas para o exterior!

Neste lugar respira-se saúde!

Na verdade, tal como escreveu o médico António Pereira de Carvalho,

'Na Gralheira, até sem pulmões se vive!'
Fotos de arquivo pessoal

 

 

Publicado em
16/12/2021
na categoria
Caminhos na História
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Celeste Almeida

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