Não temo a vida!

Quero ver sempre o sol da manhã e a lua da noite.

Rezar o 'Credo em Deus Pai' ao deitar e a 'Salve Rainha' ao acordar como se fosse sempre a primeira vez.

Sigo em frente rasgando caminhos virgens com meus pés!

Muitas vezes, sinto dores!

Muitas vezes, grito dentro de mim!

Muitas vezes, fecho os olhos e abro feridas que sangram no chão!

Muitas vezes, sinto cansaço nos cenários diários, um cansaço que tenta derrubar-me, mas mesmo com o coração partido , eu consigo apanhar todos os cacos e amarrá-los com uma corrente, a corrente do meu destino.

Não, não quero ornar-me com esmeraldas nem rubis.

Quero fazer coroas com as flores das silvas e colares com as amoras.

Quero usar brincos de princesa, daqueles que invadiam os sonhos da minha infância, no tempo das cerejas.

Quero um vestido de mil fios, tecidos no inverno ao serão. Um casaco de juncos entrançados no calor do monte.

Quero tudo e nada...mergulhada nos amieiros que se erguem ao céu, invocando o pão nosso de cada dia.

Quero ver o fuso a ser beijado por bocas que contam histórias que muitas vezes, pesaram na alma!

Quero encher meu olhar com a luz das candeias acesas no altar da vida, avida deitada em lençóis de linho para repousar os golpes duros das horas! Quero fechar os olhos, ouvir as melodias escritas nos versos da poeira! Quero tudo e nada...dar as mãos ao vento, e deixar-me levar correndo montes e vales, subindo muros e pontes, e nos penedos plantar nenúfares que cresçam todas as manhãs ao ritmo dos meus passos!

Quero ser eu, sempre eu, sempre pronta a apanhar outro comboio e fazer outra viagem.

 

Porquê?

 

Porque meu mundo não é este mundo!

Aqui, estou de passagem!

Meu mundo é aquele, onde eu espero um dia poder entrar, sabendo que carrego a bagagem que colhi no terreno do meu corpo!

Para isso, seguirei meus trilhos, sempre lançando a semente que Deus me deu, nos terrenos mais áridos do chão!

Sei que esta semente germina na pedra mais dura do caminho, lentamente, e com as carícias doces da alma, me virá um dia buscar elevar para o mundo que ainda não é meu!

Um dia, porque enquanto a urze beber o suor do pastor, quero ficar aqui. Aqui permaneço, rindo e chorando, caindo e levantando, enquanto os penedos envelhecidos fizerem sombra nas cepas das madrugadas...

 

Celeste Almeida, a autora deste texto.

 

Publicado em
4/8/2022
na categoria
Caminhos na História
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