A transumância vinda dos concelhos situados nos baixios da serra da Estrela para o Montemuro era feita de rituais culturais que só os pastores sabiam decifrar.

Um deles era o enfeite do gado, um trabalho que demorava longas horas de trabalho, mas que era o principal cartaz turístico na passagem dos rebanhos.

Adornar os cornos dos animais não era obrigatório.

Havia alguns pastores que nada punham , como por exemplo, o senhor João Marques que seguia com o seu rebanho sem qualquer adorno.

Enfeitava-os sim, para a festa do Santo António dos Cabaços e fazia-o com tanta excelência e perfeição, que vários troféus conquistou ao longo dos anos.

Neste enquadramento, como punham os pompons nos cornos para se manterem seguros, durante os dias da viagem?

Primeiro que tudo, faziam buraquinhos nos cornos dos animais com um ferro pontiagudo, depois de o colocarem no lume, até ficar em brasa.

Esta técnica perdurou longos anos, mas acabou por ser substituida pela broca, tornando o trabalho mais prático, mais rápido e com menos riscos, tanto para os animais como para os pastores.

Feitos os buracos, prendiam nos cornos os pompons, também chamados de peras ou borlas.

A quantidade de pompons dependia do gosto de cada pastor, embora todos soubessem , que os chibos eram os principais responsáveis pela atratividade nos lugares por onde passavam.

Completavam os adornos dos cornos, pendurando guizos que ao longo da caminhada, geravam uma sucessão de ritmos muito melodiosos.

Na verdade, a cabeça dos chibos era o principal atrativo dos animais.

Além destes adereços, o focinho ficava todo vistoso com a cabeçada ou cabresto.

Na realização da cabeçada, usavam fitas de várias cores com predominância da cor vermelha que indica vitalidade.

Tal como o nome sugere, a cabeçada era enfiada no focinho do animal e atada na parte superior da cabeça com dois pares de atilhos.

Abafadas em lã, olhando os céus cheios de poeira, as ovelhas seguiam viagem pelas canadas batidas de sol.

À frente, iam os chibos comandantes com os cornos cobertos de flores cantantes, exacerbando aquele espetáculo idílico.

Um espetáculo que se vergava no peso deslumbrante da loiça grande, pendurado no pescoço.

Enormes chocalhos entoavam pelos trilhos e canadas vibrações sonoras e ruidosas que anunciavam a passagem do rebanho aos fiéis espetadores.

Enfim! O teatro bucólico, depois de um ano de ausência, voltava às ruas e o público com os olhos cravados naquela nuvem pastoril, aplaudia ,entusiasticamente, a procissão de tantos animais, verdadeiros personagens cénicos que enriqueciam a cultura pegural.

Celeste Almeida, Autora do Texto

 

Publicado em
4/8/2022
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Caminhos na História
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